Resenha | Oficina de Escritores | Teoria & História Literária
O texto em pauta se trata de uma Resenha da obra de Harold Bloom, e, além disto, de uma análise de Teoria & História Literária, sendo, por fim, uma ferramenta útil a nossa Oficina de Escritores, deste blog, uma vez que a Leitura é um pressuposto para a Arte da Escrita. Um aperitivo para fechar o domingo!
Como e Por Que Ler
Harold Bloom | Professor das Universidades de Yale e
de New York. Em 1999, recebeu a medalha de ouro em Crítica Literária da
Academia Norte-americana de Artes e Letras, da qual é membro desde 1990. Um dos
mais conceituados críticos literários da atualidade, é autor de O cânone ocidental e Shakespeare: a invenção do humano,
publicados pela Objetiva.
Tradução | José Roberto O’Shea
Revisão | Marta Miranda O’Shea
Rio
de Janeiro: Objetiva, 2001.
“Leitor
tornou-se livro, e noite de verão
Era
como o ser consciente do livro.
Wallace Stevens
“A
literatura é um exercício de paixão. E é com toda sua paixão pelos grandes
mestres e suas obras que Harold Bloom traz aos seus leitores mais uma análise
fascinante do universo literário.”
“’Nos
dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está a sabedoria’”
– “esta instigante questão inicia o saboroso texto de Bloom. No momento em que
tudo nos chega de forma tão rápida e fácil, quando podemos saber do que se
passa em outro extremo do mundo com o simples clicar no mouse, quando acervos dos maiores museus da humanidade podem
visitar nossos monitores de computador, ler bem é ainda um dos prazeres da solidão,
segundo Bloom, o mais benéfico dos prazeres. Neste livro, Bloom pretende
mostrar como e por que ler, recorrendo a inúmeros exemplos de obras literárias:
poemas, contos, romances, peças teatrais.
“Para
Bloom, a crítica literária deve ser pragmática e experimental, em vez de
teórica. Os críticos que elegeu como mestres exercem seu ofício explicitando,
com elegância, o que está implícito na obra analisada. Nos textos que reúne
neste livro, Bloom procura aguçar nossos olhos de leitor para aquilo que merece
destaque em importantes textos da literatura. Shakespeare, Emily Dickinson,
Hemingway, Calvino, Nabokov são alguns dos autores que a inspirada leitura de
Bloom revisita, apontando novas e instigantes percepções de muitos textos que
já se tornaram antológicos.
“O
texto sensível e inspirado de Harold Bloom leva os amantes da literatura para
mais uma aventura prazerosa nesse universo meio mítico, meio mágico, sempre tão
fascinante da criação literária.”
“Um
clicar no mouse pode levar-nos, em
segundos, a saber do que se passa em outro extremo do planeta. Museus do mundo
todo podem chegar até nós nos monitores de nossos computadores. A cada dia
recebemos a informação de forma mais veloz. Entretanto, o livro permanece com
seu público cativo. Escritores, leitores, críticos, uma legião de apaixonados
que não abre mão do bom e velho exercício de criar e ler histórias.
“Harold
Bloom, um dos mais importantes nomes da crítica literária contemporânea,
convida-nos nesse livro a uma deliciosa viagem por grandes textos da literatura
universal.”
“Caso
pretenda desenvolver a capacidade de formar opiniões críticas e chegar a
avaliações pessoais, o ser humano precisará continuar a ler por iniciativa
própria. Como ler (se o faz de maneira proficiente ou não) e o que ler não
dependerá, inteiramente, da vontade do leitor, mas o porquê da leitura deve ser
a satisfação de interesses pessoais.
“[...]
Considero aqui a leitura como hábito pessoal, e não como prática educativa.
[...]”
“[...]
Para sermos capazes de ler sentimentos humanos descritos em linguagem humana
precisamos ler como seres humanos – e fazê-lo plenamente.”
“[...]
Exorto o leitor a procurar algo que lhe diga respeito e que possa servir de
base à avaliação, à reflexão. Leia plenamente, não para acreditar, nem para
concordar, tampouco para refutar, mas para buscar empatia com a natureza que
escreve e lê.”
“[...] Contos não são parábolas, nem
compilações de sábios provérbios, e, portanto, não podem ser meros fragmentos;
do conto esperamos obter o prazer da conclusão.”
O
autor desenvolve ao longo do livro análises críticas sobre Poemas, Romances (I
parte), Peças Teatrais e Romances (II Parte).
No
que se refere aos Poemas, examina autores, como William Blake, Walt Whitman,
Emily Dickinson, Shakespeare, John Milton e John Keats.
Quanto
aos Romances, autores como Cervantes, Jane Austen, Charles Dickens, Dostoiévski
e Thomas Mann.
Já
quanto às Peças Teatrais, observa autores como Shakespeare e Oscar Wilde.
Para
analisarmos, ao menos, um dos autores estudados por Bloom, elegemos Miguel de
Cervantes, Dom Quixote, dada a sua
relevância literária e histórica.
Segundo
Bloom, trata-se da primeira e maior de todas as obras do gênero romance, porém
que, contudo, é mais do que um romance. Bloom recorre ao escritor basco Miguel
de Unamuno, crítico de Cervantes, para o qual a obra de Cervantes se trata da
verdadeira bíblia espanhola, sendo Dom Quixote um verdadeiro Cristo. Para
Bloom, Cervantes seria um rival de Shakespeare, sendo comparável a Hamlet.
Além
disso, para Bloom, Shakespeare teria lido Cervantes, porém seria improvável que
Cervantes soubesse da existência de Shakespeare.
“O
Dom e Sancho têm muitas desavenças, mas sempre fazem as pazes, e sempre contam
um com o outro, em termos de afeto, lealdade, bem como quanto à grande falta de
sabedoria do Dom e à admirável sapiência de Sancho.”
“Embora
quase tudo que é possível acontecer, de fato, aconteça em Dom Quixote, o que há de mais importante no romance são os
contínuos diálogos entre Sancho e o Dom. Se abrimos, aleatoriamente, o livro, é
provável que nos deparemos com uma dessas conversas – zangadas, sonhadoras, em
última análise, sempre afáveis, fundadas em respeito mútuo. Mesmo quando
discutem com veemência, jamais faltam com a cortesia, e sempre aprendem, a
partir daquilo que o outro tem a dizer. E ouvindo, ambos se modificam.”
“Nos
afetuosos (ainda que tantas vezes exaltados) debates, o Dom e Sancho, aos
poucos, adquirem algumas características um do outro. A loucura visionária de
Quixote passa a exibir um aspecto mais cauteloso, e a astúcia e o bom-senso de
Sancho se transformam em um mundo de faz-de-conta e busca. As naturezas dos
dois jamais se fundem, mas eles aprendem a contar um com o outro (a ponto de
isso de gerar comicidade).”
“Entre
os esplendores de Cervantes, o mais espetacular é que, no Dom e em Sancho, o
autor nos oferece duas grandes almas que se amam e se respeitam.”
“O
interessante é que os dois discutem vigorosa e constantemente, como condiz a
duas personalidades fortes, com identidades bem definidas. Embora Dom Quixote
e, mais tarde, Cervantes sejam assediados por feiticeiras, identidades não
correm qualquer risco.”
Bloom
indica que Dulcinéia está para Dom, assim como Beatriz para Dante. Daí, apesar
de camponesa, sua importância no enredo.
Finalizando
sua crítica, Bloom observa: “Ler Dom
Quixote é um prazer infindo; só espero ter aqui oferecido algumas
indicações de como ler essa grande obra. Muitos de nós são figuras cervantinas,
mesclas de Quixote e Pança. Por que ler Dom
Quixote? O livro continua a ser o melhor dos romances, além de ter sido o
primeiro, assim como Shakespeare continua sendo o melhor dos dramaturgos. Há
determinados aspectos do nosso ser que só conheceremos plenamente quando
conhecermos, o melhor que pudermos, Dom Quixote e Sancho Pança.”