domingo, 17 de julho de 2016

Como e Por Que Ler | Harold Bloom | Dom Quixote | Aperitivo para fechar o Domingo!

Resenha | Oficina de Escritores | Teoria & História Literária

O texto em pauta se trata de uma Resenha da obra de Harold Bloom, e, além disto, de uma análise de Teoria & História Literária, sendo, por fim, uma ferramenta útil a nossa Oficina de Escritores, deste blog, uma vez que a Leitura é um pressuposto para a Arte da Escrita. Um aperitivo para fechar o domingo!

Como  e Por Que Ler


Harold Bloom | Professor das Universidades de Yale e de New York. Em 1999, recebeu a medalha de ouro em Crítica Literária da Academia Norte-americana de Artes e Letras, da qual é membro desde 1990. Um dos mais conceituados críticos literários da atualidade, é autor de O cânone ocidental e Shakespeare: a invenção do humano, publicados pela Objetiva.

Tradução | José Roberto O’Shea

Revisão | Marta Miranda O’Shea

Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

“Leitor tornou-se livro, e noite de verão
Era como o ser consciente do livro.
Wallace Stevens

“A literatura é um exercício de paixão. E é com toda sua paixão pelos grandes mestres e suas obras que Harold Bloom traz aos seus leitores mais uma análise fascinante do universo literário.”
“’Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está a sabedoria’” – “esta instigante questão inicia o saboroso texto de Bloom. No momento em que tudo nos chega de forma tão rápida e fácil, quando podemos saber do que se passa em outro extremo do mundo com o simples clicar no mouse, quando acervos dos maiores museus da humanidade podem visitar nossos monitores de computador, ler bem é ainda um dos prazeres da solidão, segundo Bloom, o mais benéfico dos prazeres. Neste livro, Bloom pretende mostrar como e por que ler, recorrendo a inúmeros exemplos de obras literárias: poemas, contos, romances, peças teatrais.
“Para Bloom, a crítica literária deve ser pragmática e experimental, em vez de teórica. Os críticos que elegeu como mestres exercem seu ofício explicitando, com elegância, o que está implícito na obra analisada. Nos textos que reúne neste livro, Bloom procura aguçar nossos olhos de leitor para aquilo que merece destaque em importantes textos da literatura. Shakespeare, Emily Dickinson, Hemingway, Calvino, Nabokov são alguns dos autores que a inspirada leitura de Bloom revisita, apontando novas e instigantes percepções de muitos textos que já se tornaram antológicos.
“O texto sensível e inspirado de Harold Bloom leva os amantes da literatura para mais uma aventura prazerosa nesse universo meio mítico, meio mágico, sempre tão fascinante da criação literária.”
“Um clicar no mouse pode levar-nos, em segundos, a saber do que se passa em outro extremo do planeta. Museus do mundo todo podem chegar até nós nos monitores de nossos computadores. A cada dia recebemos a informação de forma mais veloz. Entretanto, o livro permanece com seu público cativo. Escritores, leitores, críticos, uma legião de apaixonados que não abre mão do bom e velho exercício de criar e ler histórias.
“Harold Bloom, um dos mais importantes nomes da crítica literária contemporânea, convida-nos nesse livro a uma deliciosa viagem por grandes textos da literatura universal.”
“Caso pretenda desenvolver a capacidade de formar opiniões críticas e chegar a avaliações pessoais, o ser humano precisará continuar a ler por iniciativa própria. Como ler (se o faz de maneira proficiente ou não) e o que ler não dependerá, inteiramente, da vontade do leitor, mas o porquê da leitura deve ser a satisfação de interesses pessoais.
“[...] Considero aqui a leitura como hábito pessoal, e não como prática educativa. [...]”
“[...] Para sermos capazes de ler sentimentos humanos descritos em linguagem humana precisamos ler como seres humanos – e fazê-lo plenamente.”
“[...] Exorto o leitor a procurar algo que lhe diga respeito e que possa servir de base à avaliação, à reflexão. Leia plenamente, não para acreditar, nem para concordar, tampouco para refutar, mas para buscar empatia com a natureza que escreve e lê.”
 “[...] Contos não são parábolas, nem compilações de sábios provérbios, e, portanto, não podem ser meros fragmentos; do conto esperamos obter o prazer da conclusão.”
O autor desenvolve ao longo do livro análises críticas sobre Poemas, Romances (I parte), Peças Teatrais e Romances (II Parte).
No que se refere aos Poemas, examina autores, como William Blake, Walt Whitman, Emily Dickinson, Shakespeare, John Milton e John Keats.
Quanto aos Romances, autores como Cervantes, Jane Austen, Charles Dickens, Dostoiévski e Thomas Mann.
Já quanto às Peças Teatrais, observa autores como Shakespeare e Oscar Wilde.
Para analisarmos, ao menos, um dos autores estudados por Bloom, elegemos Miguel de Cervantes, Dom Quixote, dada a sua relevância literária e histórica.
Segundo Bloom, trata-se da primeira e maior de todas as obras do gênero romance, porém que, contudo, é mais do que um romance. Bloom recorre ao escritor basco Miguel de Unamuno, crítico de Cervantes, para o qual a obra de Cervantes se trata da verdadeira bíblia espanhola, sendo Dom Quixote um verdadeiro Cristo. Para Bloom, Cervantes seria um rival de Shakespeare, sendo comparável a Hamlet.
Além disso, para Bloom, Shakespeare teria lido Cervantes, porém seria improvável que Cervantes soubesse da existência de Shakespeare.
“O Dom e Sancho têm muitas desavenças, mas sempre fazem as pazes, e sempre contam um com o outro, em termos de afeto, lealdade, bem como quanto à grande falta de sabedoria do Dom e à admirável sapiência de Sancho.”
“Embora quase tudo que é possível acontecer, de fato, aconteça em Dom Quixote, o que há de mais importante no romance são os contínuos diálogos entre Sancho e o Dom. Se abrimos, aleatoriamente, o livro, é provável que nos deparemos com uma dessas conversas – zangadas, sonhadoras, em última análise, sempre afáveis, fundadas em respeito mútuo. Mesmo quando discutem com veemência, jamais faltam com a cortesia, e sempre aprendem, a partir daquilo que o outro tem a dizer. E ouvindo, ambos se modificam.”
“Nos afetuosos (ainda que tantas vezes exaltados) debates, o Dom e Sancho, aos poucos, adquirem algumas características um do outro. A loucura visionária de Quixote passa a exibir um aspecto mais cauteloso, e a astúcia e o bom-senso de Sancho se transformam em um mundo de faz-de-conta e busca. As naturezas dos dois jamais se fundem, mas eles aprendem a contar um com o outro (a ponto de isso de gerar comicidade).”
“Entre os esplendores de Cervantes, o mais espetacular é que, no Dom e em Sancho, o autor nos oferece duas grandes almas que se amam e se respeitam.”
“O interessante é que os dois discutem vigorosa e constantemente, como condiz a duas personalidades fortes, com identidades bem definidas. Embora Dom Quixote e, mais tarde, Cervantes sejam assediados por feiticeiras, identidades não correm qualquer risco.”
Bloom indica que Dulcinéia está para Dom, assim como Beatriz para Dante. Daí, apesar de camponesa, sua importância no enredo.
Finalizando sua crítica, Bloom observa: “Ler Dom Quixote é um prazer infindo; só espero ter aqui oferecido algumas indicações de como ler essa grande obra. Muitos de nós são figuras cervantinas, mesclas de Quixote e Pança. Por que ler Dom Quixote? O livro continua a ser o melhor dos romances, além de ter sido o primeiro, assim como Shakespeare continua sendo o melhor dos dramaturgos. Há determinados aspectos do nosso ser que só conheceremos plenamente quando conhecermos, o melhor que pudermos, Dom Quixote e Sancho Pança.”


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